A mudança climática é um desafio global que afeta a todos. Os impactos são e continuarão a ser sentidos de forma mais aguda nos países em desenvolvimento, que têm menos capacidade de lidar com essas mudanças. Para evitar os piores impactos das mudanças climáticas na adaptação a um planeta em transformação, é crucial abordar essa questão.
Nos últimos quinze anos, houve avanços significativos desde a Conferência do Clima e o lançamento do Climate Investment Funds (CIF). O CIF estabeleceu um modelo de sucesso para reunir bancos multilaterais, governos e outras partes interessadas, a fim de implementar programas climáticos transformadores em países em desenvolvimento. Por meio do financiamento e expansão de projetos climáticos inovadores em todo o mundo, o CIF tem o objetivo de alavancar US$ 62 bilhões em cofinanciamento, melhorar o acesso à energia para mais de 10 milhões de pessoas, gerar cerca de 32,7 GW de nova capacidade de energia limpa e apoiar mais de 45 milhões de pessoas na adaptação aos efeitos das mudanças climáticas.
Esses resultados alcançados em tão pouco tempo são possíveis por meio da parceria de todos os membros da comunidade CIF, incluindo o Secretariado do CIF, o Banco Mundial, os parceiros do MDB (Multilateral Development Banks), o Fundo Fiduciário e os países contribuintes e receptores do CIF.
No entanto, a ciência alerta sobre a necessidade de uma ação urgente e ambiciosa. É necessário mobilizar trilhões de dólares para atingir as metas climáticas. Nesse processo, o CIF desempenhará um papel fundamental, trabalhando em parceria com MDBs e governos para focar em projetos inovadores e atrair um capital privado significativo para implementá-los.
Dessa forma, a próxima fase do CIF consistirá em alavancar o financiamento em grande escala para enfrentar novos e emergentes desafios, especialmente em áreas de fronteira. Serão lançados pacotes de programas como o Accelerating Coal Transition (ACT), Renewable Energy Integration (REI), Nature, People and Climate (NPC), Climate Smart Urbanization (CSU) e Decarbonization of Industry (ID). Esses programas se somarão ao sucesso das gerações anteriores de programas do CIF, como o Clean Technology Fund (CTF), o Pilot Program for Climate Resilience (PPCR), o Forest Investment Program (FIP) e o Scaling Up Renewable Energy Program (SREP).
Ainda, o Conselho do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) aprovou um aporte de aproximadamente US$ 80 milhões (R$ 380 milhões) para projetos ambientais no Brasil. Como o fundo ambiental mais antigo do mundo, criado em 1992 durante a Rio-92, esta foi a primeira vez que o GEF realizou uma reunião de seu conselho fora de sua sede em Washington, nos Estados Unidos.
Também foi anunciado que a coalizão filantrópica “Protecting Our Planet” (POP) irá disponibilizar US$ 200 milhões (R$ 960 milhões) nos próximos quatro anos para apoiar ações relacionadas às metas do governo brasileiro de acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030, proteger a biodiversidade, os povos tradicionais e acelerar a transição para uma economia sustentável.
Os recursos privados serão direcionados diretamente para projetos, e não para o governo. No entanto, serão aplicados com base em três agendas temáticas definidas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA): Desenvolvimento Socioambiental de Comunidades, Estruturação de Novas Unidades de Conservação e Fortalecimento Institucional e Governança.
Os projetos aprovados pelo GEF abrangem iniciativas nas áreas de conservação, reflorestamento, uso sustentável da biodiversidade, construções com zero emissão de carbono, combate ao plástico nos oceanos e integração entre biodiversidade e povos indígenas e comunidades como estratégia de conservação do território e proteção do conhecimento tradicional.
Destaca-se a parceria de mais de 30 anos entre o Brasil e o GEF, que tem apoiado o desenvolvimento e a implementação de políticas ambientais por meio de projetos que fornecem conhecimento e capacitação para enfrentar desafios ambientais.
Essa ação enfatizou a importância histórica da aprovação de um projeto pelo GEF, voltado para fortalecer a capacidade dos povos indígenas e comunidades locais da Amazônia e do Cerrado na gestão de dados de biodiversidade como estratégia para proteger seus territórios, preservar o conhecimento ancestral e promover a gestão integrada da biodiversidade.
Recentemente, foram emitidos decretos relacionados à área climática que visam fortalecer as políticas de enfrentamento às mudanças climáticas no Brasil. Essas medidas abrangem a recriação do Comitê Interministerial de Mudança do Clima (CIM) e a retomada do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima e da Comissão Nacional de REDD+ (Conaredd), que desempenha um papel importante na governança para decidir a distribuição dos recursos de pagamento por resultados na redução de emissões.
Além disso, foi instituída uma comissão para a preparação da COP30, a Conferência do Clima da ONU, que será sediada no Brasil em 2025. Essa comissão terá a responsabilidade de organizar e planejar o evento, que será realizado em Belém, no Pará. Para isso, estão previstas medidas como a reforma de um antigo aeroporto da cidade para receber os participantes da conferência e a dragagem do porto para acomodar grandes navios. Será realizado um investimento de R$ 60 milhões para essas adequações, com o objetivo de garantir uma infraestrutura adequada para o evento. Além disso, o Mercado Ver-o-Peso, importante ponto turístico e cultural da região, também passará por reformas, contando com recursos do BNDES e do orçamento da União.
No que diz respeito às Unidades de Conservação, também foram tomadas medidas significativas. Foi criado o Parque Nacional da Serra do Teixeira, na Paraíba, abrangendo uma área de 61 mil hectares. Essa medida tem como objetivo proteger e preservar a biodiversidade única presente na região, bem como garantir o uso sustentável dos recursos naturais. Além disso, a Reserva Extrativista Chocoaré-Mato Grosso, localizada no Pará, teve sua área ampliada, fortalecendo assim a proteção das comunidades tradicionais e promovendo práticas de manejo sustentável dos recursos naturais.
Essas ações demonstram o compromisso do Brasil em enfrentar os desafios das mudanças climáticas e buscar soluções sustentáveis. Ao fortalecer as políticas de governança ambiental, investir em infraestrutura adequada para conferências internacionais e expandir as áreas protegidas, o país está avançando em direção a um futuro mais sustentável e resiliente. Essas medidas também refletem o reconhecimento da importância de proteger a biodiversidade e promover o desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo em que se busca equidade social e justiça climática.
Soluções Baseadas na Natureza: Uma Abordagem Eficaz, Replicável e com bom Custo-Benefício
Pequenas nações insulares, como Fiji e República Dominicana, enfrentam desafios significativos devido às mudanças climáticas, especialmente em relação ao aumento do nível do mar e tempestades mais intensas. No entanto, esses países encontraram soluções inovadoras e baseadas na natureza para enfrentar esses problemas.
Os ecossistemas costeiros, como manguezais, prados de ervas marinhas e recifes de coral, desempenham um papel crucial na proteção contra os impactos do aumento do nível do mar e tempestades. Além disso, o plantio de árvores no interior das ilhas pode ajudar a reduzir a erosão do solo, os deslizamentos de terra e os riscos de inundação, enquanto aumenta a biodiversidade e a produtividade.
É nesse contexto que o Programa de Investimento em Natureza, Pessoas e Clima do CIF entra em ação. O programa destinará inicialmente US$ 350 milhões em financiamento para países como Fiji, República Dominicana, Quênia, Egito e cinco países da região da bacia do rio Zambeze, na África. O objetivo é promover soluções baseadas na natureza em larga escala e de forma holística, trabalhando em parceria com as comunidades locais.
A visão por trás desse programa é investir na natureza como um todo, reconhecendo sua importância para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, o aumento da resiliência climática e a melhoria das condições de vida das comunidades locais, ao mesmo tempo em que impulsiona o crescimento econômico sustentável.
Destaca-se a eficácia, replicabilidade e custo-benefício das soluções baseadas na natureza, bem como a importância desses investimentos anunciados na COP27 na necessidade de levantar fundos para apoiar mais projetos semelhantes. Com 55 países em desenvolvimento interessados em participar, fica evidente que o Programa de Investimento em Natureza, Pessoas e Clima atende a uma necessidade urgente que não estava sendo atendida anteriormente.
No cerne da abordagem desse programa está o reconhecimento de que soluções baseadas na natureza só serão bem-sucedidas se forem inclusivas, levando em consideração as atividades diversas que ocorrem dentro de uma paisagem e envolvendo todas as pessoas afetadas. Ao trabalhar em parceria com as comunidades locais, o programa busca garantir que essas soluções sejam efetivas, sustentáveis e tragam benefícios tangíveis para todos os envolvidos.
Já no Brasil, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) anunciou o lançamento do primeiro edital de concessão para recuperação florestal e plantio de espécies nativas da Mata Atlântica, em parceria com o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O edital prevê a licitação das Florestas Nacionais (Flonas) de Irati, no Paraná, e de Chapecó e Três Barras, em Santa Catarina, com o objetivo principal de promover a recuperação do bioma da Mata Atlântica na região. O projeto contempla um investimento de R$ 430 milhões ao longo dos 35 anos de contrato, abrangendo operações florestais e a cadeia de restauração. Até então, o SFB havia realizado concessões apenas para manejo sustentável em florestas nativas na Amazônia.
As concessões agora incluem a recuperação de áreas degradadas, aproveitando os créditos de carbono. Sendo assim, buscam promover a prosperidade, combater a desigualdade, reduzir as emissões de CO2, proteger a biodiversidade e oferecer alternativas de proteção às comunidades locais.
Parte dos recursos provenientes da concessão será repassada para estados e municípios, que poderão investir em projetos que estimulem a economia local, gerando empregos e renda para as comunidades próximas às florestas. Além disso, os recursos arrecadados com a produção florestal serão destinados ao SFB, ao ICMBio, aos governos do Paraná e de Santa Catarina, e aos municípios de Chapecó, Três Barras, Fernandes Pinheiro e Teixeira Soares. O projeto abrange a recomposição florestal de mais de 6 mil hectares, por meio do plantio de espécies nativas.
A concessão de áreas florestais pode desempenhar um papel significativo na geração de empregos e no fortalecimento da economia local. Na Amazônia, já foram concedidos 1,3 milhão de hectares em Florestas Nacionais (Flonas) administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Além disso, estão previstas mais 3 milhões de hectares até o final de 2024. Quando essas áreas estiverem em produção, espera-se que a geração seja de cerca de 24 mil empregos locais e uma receita anual de aproximadamente R$ 120 milhões para Estados e Municípios. Essas concessões têm um impacto significativo na economia local, o que torna seu potencial estratégico e relevante para o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).
É importante destacar que esse é o primeiro edital de concessão florestal na Mata Atlântica, com a particularidade de incluir previsão de créditos de carbono, bem como políticas de contratação de mulheres e capacitação em igualdade de gênero e equidade salarial. O diretor do SFB enfatizou que o objetivo não é apenas o manejo florestal, mas sim a recuperação do bioma da Mata Atlântica, que sofreu desmatamento ao longo dos últimos 500 anos. Em questão, grande parte das áreas está ocupada por plantações de pinheiros, uma espécie não nativa do Brasil. Isso resultou na supressão de espécies nativas da Mata Atlântica, como araucárias, imbuias e xaxins, muitas das quais estão ameaçadas e seu corte é proibido.
Em Busca de Alternativas: Reduzindo as Emissões de CO2 do Setor de Carvão
O carvão é atualmente a maior fonte global de emissões de CO2. No entanto, para economias emergentes com reservas consideráveis desse recurso, essa tarefa se torna difícil. O carvão sustenta empregos, gera receita de exportação e alimenta a indústria e a geração de energia, sendo uma fonte vital para esses países. Para alcançar uma transição justa e rápida para fontes de energia mais limpas, serão necessários financiamento substancial e suporte técnico.
Na COP26 de 2021, foi lançado o Accelerating Coal Transition (ACT), o primeiro esforço multilateral para promover uma mudança equitativa e inclusiva no setor de carvão em países em desenvolvimento. África do Sul, Índia, Indonésia e Filipinas foram selecionados como os primeiros participantes desse programa ambicioso.
Na COP27, um passo importante foi dado: a África do Sul e a Indonésia receberão um financiamento de US$ 500 milhões para apoiar a transição do carvão para energia limpa. A África do Sul planeja descomissionar diversas usinas de energia a carvão, evitando aproximadamente 71 Mt de emissões de CO2. Além disso, serão fornecidos recursos para que as pessoas afetadas tenham acesso a novas oportunidades de emprego e influenciem nas decisões tomadas. A Indonésia, como maior exportador de carvão do mundo, também está empenhada em mudar para fontes de energia mais limpas, como parte de seu compromisso de atingir zero emissões até 2060.
Uma transição energética justa é um imperativo tanto para o clima quanto para o desenvolvimento, e não pode mais ser ignorada. Segundo a Ministra das Florestas, Pescas e Assuntos Ambientais da África do Sul, seu país precisa investir mais de US$ 60 bilhões nos próximos oito anos nessa transição. O programa ACT desempenhará um papel importante nesse processo, contribuindo para um futuro melhor para o povo sul-africano, atendendo às necessidades energéticas e promovendo o desenvolvimento.
O CIF (Climate Investment Funds) é um parceiro-chave na recém-anunciada South Africa’s Just Energy Transition Partnership (JETP), que busca acelerar a descarbonização da economia, com foco especial na eletricidade. O CIF está desempenhando um papel fundamental na coordenação do apoio financeiro multilateral e bilateral entre instituições, setor privado e filantropia, para realizar reformas ambiciosas baseadas em uma estrutura de investimento plurianual.
Os acordos de Associação para a Transição Energética Justa (ATEJ) representam uma iniciativa promissora que busca proporcionar aos países em desenvolvimento os recursos necessários para eliminar o uso de combustíveis altamente poluidores, como o carvão, e promover a adoção de fontes energéticas sustentáveis. Esses convênios, assinados pelo Grupo de Sócios Internacionais e por três países em desenvolvimento – África do Sul, Indonésia e Vietnã – têm o potencial de impulsionar significativamente a transição energética nessas nações.
O Grupo de Sócios Internacionais, composto por importantes atores globais como a União Europeia e países ricos, incluindo os Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Canadá, Japão, Noruega e Dinamarca, uniu-se em apoio a essa iniciativa. O objetivo principal é fornecer um estímulo financeiro substancial para acelerar a transição energética nos países participantes.
Estima-se que, ao longo de um período de três a cinco anos, os três países em desenvolvimento mencionados receberão um total de aproximadamente US$ 44 bilhões (cerca de R$ 226 bilhões). Esses recursos financeiros servirão como um incentivo para que essas nações antecipem a transição energética, abandonando gradualmente o uso de combustíveis altamente poluentes e adotando fontes de energia limpa e sustentável.
Esses investimentos significativos são destinados a impulsionar a transformação dos setores de energia desses países, substituindo as fontes de energia baseadas em carvão por alternativas mais limpas, como energia solar, eólica e hidrelétrica. Além disso, espera-se que esses recursos contribuam para o desenvolvimento de infraestrutura energética moderna e sustentável, promovendo assim a criação de empregos verdes e a melhoria das condições socioeconômicas das comunidades locais.
Por meio dos acordos de Associação para a Transição Energética Justa, busca-se estabelecer um modelo de cooperação internacional que possa ser replicado em outros países em desenvolvimento, oferecendo uma abordagem abrangente para enfrentar os desafios da transição energética.
Os acordos estabelecidos são baseados no reconhecimento da necessidade urgente de acelerar os esforços para alcançar os objetivos estabelecidos pela ONU no combate às mudanças climáticas, a fim de evitar as piores consequências desse fenômeno. Com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa pela metade até 2030 e alcançar emissões líquidas zero até 2050, esses convênios foram elaborados com declarações políticas que destacam essas metas.
Na prática, os acordos têm como objetivo acelerar a descarbonização das economias dos países envolvidos, com ênfase na redução e eliminação do uso de carvão como fonte de energia para geração de eletricidade. Para atingir esse objetivo, os países contarão com fundos provenientes de diversas fontes, tanto públicas quanto privadas, oferecidos por meio de mecanismos como empréstimos em condições favoráveis, empréstimos de mercado, subvenções, investimentos privados e outros.
Uma característica importante desses acordos é a participação do setor privado. Nos casos da Indonésia e do Vietnã, espera-se que metade dos fundos necessários provenham desse setor. Essa abordagem reconhece a importância do envolvimento do setor privado na transição energética e destaca a necessidade de parcerias entre os setores público e privado para alcançar resultados significativos.
Além disso, os acordos mencionam a participação da Aliança Financeira de Glasgow para Emissões Zero (GFANZ), uma coalizão de instituições financeiras que surgiu durante a COP26 com o objetivo de contribuir para a descarbonização da economia global. A inclusão dessa aliança ressalta a importância da colaboração entre instituições financeiras e governos na mobilização de recursos e na implementação de ações concretas para enfrentar as mudanças climáticas.
Esses acordos representam um marco importante no combate às mudanças climáticas, pois oferecem um caminho viável para que os países em desenvolvimento recebam os recursos necessários para impulsionar a transição energética.
Fundo Verde: Investindo em um Futuro Sustentável
Os jovens têm desempenhado um papel fundamental na luta contra as mudanças climáticas. Reconhecendo essa importância, o CIF (Climate Investment Funds) tem se empenhado em empoderar jovens defensores do clima, apoiando a inovação, promovendo fóruns liderados por jovens e fortalecendo seu papel na tomada de decisões relacionadas a finanças e governança climáticas.
Em resposta à demanda dos jovens por mais informações sobre financiamento climático, o CIF estabeleceu uma parceria com o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) para sediar um treinamento de capacitação interativo. Durante dois dias, 39 jovens da Ásia Central e Leste Europeu se reuniram com especialistas do Climate Finance Group da América Latina e Caribe, CIF, BERD e YOUNGO, o órgão juvenil da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). Os jovens organizaram e facilitaram o workshop, que também destacou formas significativas de se envolver com instituições financeiras multilaterais no âmbito climático.
Em Santa Lúcia, um pequeno país insular no Caribe, o CIF apoiou o desenvolvimento de um aplicativo chamado “Act to Adapt” (“Aja para se Adaptar”). Esse aplicativo permite que os usuários avaliem o impacto de um furacão de categoria 5 em suas casas e aprendam sobre possíveis melhorias a serem feitas. Além disso, foi lançada uma competição chamada “Act to Adapt School Competition” que desafiou estudantes do ensino médio a aplicarem o aplicativo para avaliar os potenciais impactos em suas casas e escreverem um plano de adaptação descrevendo projetos de melhoria residencial para aumentar a resiliência. Prêmios de até US$ 10.000 foram concedidos aos vencedores para implementação dos projetos propostos. Esse projeto ativou e incentivou jovens adultos a influenciarem as decisões familiares relacionadas à resiliência climática.
Outro destaque em 2022 foi o Youth ADAPT Challenge, uma parceria com o Global Center on Adaptation (GCA) e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que concedeu subsídios de até US$ 100.000 a 10 jovens africanos para incubar e acelerar soluções de negócios relacionadas à adaptação climática e resiliência. Um dos participantes, Ifeoluwa Olatayo, iniciou a Soupah Farm-en-Market Limited na Nigéria, que se especializa em sistemas de cultivo sem solo, produzindo plantas de crescimento rápido e saudáveis com maiores rendimentos, usando 95% menos água do que os métodos agrícolas tradicionais. O objetivo desse empreendimento é estabelecer 80 estufas em telhados de 15 grandes cidades nigerianas até 2025.
Além disso, na Costa do Marfim, o Programa de Investimento Florestal (FIP) do CIF, em parceria com o Governo e o Banco Mundial, está implementando um plano que visa fornecer financiamento para atividades lideradas por mulheres. Uma das beneficiárias desse financiamento é a associação Malébi, fundada em 2008, com o objetivo de combater a pobreza rural e proteger e restaurar as florestas.
Esta confirmou em primeira mão como a diminuição dos recursos naturais ameaçava sua comunidade e, como resposta, começou a promover um sistema agroflorestal tradicional chamado Taungya. Com o financiamento do CIF, a Malébi já treinou e apoiou 3.000 pessoas na adoção desse sistema. O Taungya envolve o plantio de espécies de árvores nativas para fornecer madeira para a produção de carvão vegetal, além do cultivo de alimentos como mandioca, milho, inhame, banana e amendoim entre as árvores jovens até que elas amadureçam.
As mulheres que participam desse projeto se beneficiam de duas maneiras: produzindo e vendendo carvão vegetal, bem como vendendo (e consumindo) os produtos alimentares cultivados. Nas áreas em que a Malébi atua, as comunidades também testemunharam o retorno de tartarugas terrestres em risco de extinção e outras espécies florestais, bem como a ressurgência de ervas selvagens utilizadas para fins medicinais.
Ao fornecer financiamento e apoio, permite-se que as mulheres enfrentem os desafios ambientais e sociais de sua comunidade, contribuindo para a restauração das florestas, a geração de renda sustentável e o fortalecimento da resiliência das comunidades locais.
Sinaliza-se, também, que mais de meio bilhão de africanos ainda não têm acesso à eletricidade, e embora tenha havido progresso rápido na eletrificação antes da pandemia, o ritmo atual levaria gerações para alcançar todas as famílias desconectadas, especialmente nas áreas rurais. No entanto, existem soluções mais rápidas e econômicas, como sistemas solares off-grid e mini-redes, que poderiam ser implementadas em larga escala. No entanto, para superar os desafios e implementar essas soluções de forma eficaz, é necessária engenhosidade, flexibilidade e criatividade na resolução de problemas. O mesmo se aplica aos esforços de proteção florestal, medidas de construção de resiliência e outras prioridades de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Compreender o que é necessário para ter sucesso nesses empreendimentos e como replicá-los em larga escala é o foco da Climate Delivery Initiative (CDI), lançada em maio de 2022. Baseada no trabalho da Global Delivery Initiative, que reuniu e analisou dados de mais de 10.000 projetos em todo o Grupo Banco Mundial, a CDI está desenvolvendo uma base de conhecimento sobre as barreiras frequentemente enfrentadas pelos programas de financiamento climático, bem como formas de superá-las. Seu objetivo é ajudar os formuladores de políticas e as equipes operacionais a projetar e implementar intervenções mais eficazes, diferenciadas e responsivas.
A CDI é composta por três componentes principais: uma base teórica, que se baseia na análise de dados e pesquisas anteriores; uma série de estudos de caso; e os Climate Delivery Labs e fóruns de aprendizado, nos quais são compartilhados com formuladores de políticas, acadêmicos e implementadores de projetos, construindo assim um maior conhecimento coletivo.
Um dos primeiros estudos de caso focou no Programa de Energia Renovável em Escala (SREP) em Ruanda, que tinha como objetivo alavancar a ação do setor privado para acelerar a eletrificação rural off-grid. Com um financiamento de US$ 48,94 milhões do SREP, o país criou um fundo de energia renovável. O CDI publicou o estudo de caso e organizou uma mesa redonda para discutir os resultados e sua aplicabilidade em outros contextos.
Por meio dessas iniciativas, com a CDI e programas como o SREP, busca-se impulsionar a implantação de soluções climáticas eficazes, especialmente no contexto africano, onde o acesso à eletricidade é crucial para o desenvolvimento socioeconômico e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Outro plano, a fim de atender às demandas e solicitações dos representantes dos Povos Indígenas e comunidades locais, com o Programa de Investimentos Florestais (FIP) do CIF, estabeleceu o Mecanismo de Doação Dedicado (DGM), em financiamento de US$ 80 milhões. Esse mecanismo tem como objetivo direcionar recursos diretamente para os Povos Indígenas e comunidades locais, a fim de apoiar práticas sustentáveis de uso florestal lideradas por eles.
O DGM representa um reconhecimento da grande importância dos conhecimentos tradicionais e do papel dos Povos Indígenas e comunidades locais na proteção e manejo sustentável das florestas. Por meio desse mecanismo, esses grupos recebem apoio financeiro e técnico para implementar suas estratégias de conservação florestal, fortalecendo assim a sua capacidade de enfrentar desafios como o desmatamento, a degradação florestal e as mudanças climáticas.
Pouco antes da Conferência das Partes (COP15) em Montreal, o CIF co-organizou um encontro em parceria com a Climate Action Network (CAN) Canadá, com o apoio do Governo do Canadá. Esse encontro teve como objetivo promover o diálogo e a colaboração entre os representantes indígenas, a sociedade civil e as partes interessadas envolvidas na conservação florestal e nas questões climáticas.
A colaboração entre o CIF, a sociedade civil e os grupos indígenas é fundamental para fortalecer a governança participativa e inclusiva, garantindo que as vozes e os conhecimentos tradicionais sejam considerados nas decisões relacionadas à conservação florestal e às ações climáticas. Essa abordagem colaborativa e inclusiva contribui para a promoção de soluções mais eficazes e sustentáveis, que abordam os desafios ambientais e socioeconômicos enfrentados pelas comunidades locais.
Construindo um Futuro Sustentável: Maximizando os Benefícios das Finanças Climáticas
Em face das crescentes preocupações com as mudanças climáticas e a necessidade de promover o desenvolvimento sustentável, tornou-se cada vez mais evidente a necessidade de escalar as finanças climáticas.
As finanças climáticas desempenham um papel crucial na transição para uma economia de baixo carbono e na implementação de soluções sustentáveis. Para enfrentar efetivamente os desafios climáticos, é fundamental maximizar os benefícios das finanças climáticas, garantindo que os recursos sejam alocados de forma eficiente e eficaz.
Uma abordagem estratégica para escalar as finanças climáticas envolve a mobilização de investimentos públicos e privados em projetos e iniciativas relacionadas ao clima. Isso inclui o financiamento de energias renováveis, eficiência energética, transporte sustentável, adaptação às mudanças climáticas, entre outros.
Além disso, é necessário promover mecanismos inovadores de financiamento, como títulos verdes, fundos de carbono e parcerias público-privadas, que possam atrair investidores e mobilizar recursos substanciais para ações climáticas.
A crescente ambição da CIF como um parceiro confiável em financiamento climático foi fortalecida em 2022 com a aprovação de um novo plano de negócios de cinco anos para a Iniciativa de Avaliação e Aprendizagem do CIF. Esse plano foi desenvolvido por meio de ampla consulta a diversas partes interessadas do CIF.
O plano possui três principais objetivos: gerar novas evidências, facilitar a aprendizagem aplicada e construir colaborações e parcerias que amplifiquem o impacto do CIF. Ele enfatiza a necessidade urgente de aumentar o financiamento climático e maximizar seus benefícios para o clima e o desenvolvimento, buscando gerar e compartilhar lições tanto das experiências do CIF quanto de seus parceiros.
A Iniciativa de Avaliação e Aprendizagem desenvolve diversos estudos rigorosos e compromissos estratégicos de aprendizado. Isso inclui intercâmbios presenciais de conhecimento Sul-Sul e novos estudos, como o Programa de Expansão de Energia Renovável em Países de Baixo Rendimento (SREP) e as avaliações independentes de impacto no desenvolvimento. Esses estudos forneceram novas evidências, dados e análises das muitas maneiras pelas quais o financiamento climático do CIF pode apoiar os objetivos mais amplos dos países. O estudo do SREP apresenta os sucessos e desafios do acesso à energia em contextos desafiadores, enquanto a avaliação de impacto no desenvolvimento examina as ligações, oportunidades e barreiras para obter resultados significativos e positivos em termos de desenvolvimento social, econômico, ambiental e de mercado.
O trabalho da Iniciativa de Avaliação e Aprendizagem concentra-se em quatro temas prioritários: mudança transformacional, transições justas, impactos de desenvolvimento e mobilização de finanças climáticas. Conforme novos conhecimentos são adquiridos, compartilhados e colocados em prática, os conceitos, métodos e métricas desenvolvidos por meio da Aprendizagem de Mudança Transformacional são incorporados ao design, implementação e revisão de novos programas de investimento do CIF. Da mesma forma, a Iniciativa de Transição Justa (JTI) lançou uma iniciativa para testar ferramentas de planejamento de transição e métodos apenas, além de desenvolver projetos com foco no setor de baixo carbono e iniciativas impulsionadas por inteligência artificial (IA), entre outras abordagens inovadoras.
E, dessa forma, impulsionam ações e resultados eficazes no combate às mudanças climáticas e na promoção do desenvolvimento sustentável.